quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Era uma vez a Gândara dos Manuéis e das Marias:



Estas duas fotos foram tiradas em Abril de 2016 na Sanguinheira (na Freguesia de Sanguinheira e Concelho de Cantanhede), a um monumento criado em homenagem às pessoas que fizeram parte da Comissão Promotora para a criação da Freguesia da Sanguinheira, daí serem considerados os seus fundadores.

A Freguesia da Sanguinheira é relativamente recente, pois só foi criada em 1986, tendo antes estado integrada na vizinha Freguesia de Cadima, da qual foi desanexada.

Estando explicado o contexto subjacente a este monumento, o que chama a atenção nele?

A mim, o que me chamou a atenção foi o facto de a maior parte dos fundadores da Freguesia terem o nome próprio Manuel!

Entre as gerações mais velhas nascidas na Gândara até meados do século XX, era muito comum dar aos homens o nome Manuel e dar às mulheres o nome Maria. Dando o exemplo da minha família, originária da Sanguinheira de Baixo (pelo lado paterno) e da Tocha (pelo lado materno), ambos os meus dois avôs chamavam-se Manuel, ambas as minhas duas avós chamavam-se Maria, a minha mãe chamava-se Maria (todos infelizmente já falecidos) e tenho um tio Manuel e uma tia Maria!

Contudo, a partir de meados do século XX, este costume ou tradição perdeu-se e surgiu uma maior diversidade na escolha dos nomes próprios para dar às crianças nascidas. E nas crianças nascidas nas últimas décadas, os nomes Manuel ou Maria já são pouco frequentes, até mesmo raros.
 
No Brasil, há um estereótipo ligados aos portugueses, muito utilizado em anedotas, que diz que todo o português se chama Manuel ou Joaquim. No caso do Manuel, talvez a grande emigração da Gândara para o  Brasil, nos princípios do século XX, tenha contribuído para esse estereótipo.

Terá sido bom ou mau esta tradição ter desaparecido da Gândara? Será melhor a existência de uma grande variedade de nomes próprios, mesmo que tenham poucas raízes nesta região? Quem quiser dar a sua opinião, tem a caixa de comentários à sua disposição.


Once upon a time a land full of people named "Manuel" and "Mary":

The two photos above were taken in April of 2016, in the village of Sanguinheira (in the Civil Parish of Sanguinheira and Municipality of Cantanhede). They show a monument created in tribute to the men envolved in the creation of the Civil Parish of Sanguinheira, in 1986. Before 1986, this parish belonged to the neighbouring Civil Parish of Cadima.

What caught my attention in this monument was the fact that most of the men have the given name "Manuel", the portuguese version of "Em(m)anuel" or "Im(ma)nuel".

In the older generations, born in this region until half of the XXth century,  many men were given the name "Manuel" and many women were given the name "Maria" (the portuguese version of "Mary"). This was some kind of tradition among the people of this region.

To give the personal example of my family, my both grandfathers were "Manuel", my both grandmothers were "Maria", my mother was "Maria" (all deceased, unfortunately) and i have one uncle "Manuel" and one aunt "Maria".

But this was a tradition of the older generations. To the new generations, born after the second  half of the 20th century, there is much more diversity of given names. And to the people born in this region during the last decades, now is rare to find someone named "Manuel" or "Maria".

Localização / Location:

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O Moinho Gandarez do Casal Novo:

Na aldeia do Casal Novo (na Freguesia de Quiaios e Concelho da Figueira na Foz), existe um moinho gandarez tradicional, o qual é facilmente visível, por se localizar ao lado da Estrada Nacional 109. É um dos poucos moinhos de vento gandareses tradicionais que restam nesta região, embora outrora tenham sido numerosos.

Há uns meses, depois de muito tempo sem passar por esta zona do Sul da Gândara, reparei que este moinho tinha um aspecto diferente, sinal de que teve uma intervenção de restauro, feita num dos últimos anos, em data que desconheço.

Numa conversa com uma pessoa desta zona (e a fazer fé nas suas palavras), foi-me dito que o moinho terá ficado operacional após o restauro, mas que, uns meses depois, terá voltado a ficar inoperacional por ter sido assaltado. Durante esse assalto, alguém terá levado a grande peça metálica que conduz a força motriz das velas para as mós do moinho, peça essa difícil de substituir. (Peço desculpa aos leitores por não saber a denominação técnica dessa peça.) Porque alguém roubaria peças de um moinho? Talvez por pura malvadez? Talvez porque essa peça de ferro bastante pesada ainda renda alguns euros num receptador de ferro velho menos consciencioso? Mais um sinal dos tempos preocupantes que Portugal atravessa.

Deixo aqui algumas fotos que ilustram a evolução recente deste moinho. Essas fotos foram tiradas em Abril de 2016, Janeiro de 2010 e Outubro de 2007, sempre durante voltas de bicicleta. As fotos mais antigas também foram incluídas nos minutos finais de um vídeo que fiz em 2011 sobre os Moinhos de Vento Gandareses, que aqui deixo.

Os Moinhos Gandareses distinguem-se essencialmente de outros tipos de moinhos, por:
- Serem de pequeno tamanho e quase totalmente construídos em madeira.
- Estes Moinhos têm um formato de trapézio isósceles, quase triangular, pois o lado virado para o vento tem uma largura muito reduzida. Uma notável concepção aerodinâmica empírica! A maioria dos outros tipos de moinhos possuem uma forma circular.
- O Moinho é concebido de forma a que a totalidade da sua estrutura possa rodar na horizontal, com a força física de uma única pessoa, de forma a ajustar a posição das velas com a direcção do vento, em determinado momento.  Mais uma característica que o diferencia da maior parte dos outros moinhos, nos quais apenas o mastro e o telhado se movimentam para se adequarem à direcção do vento. O moinho é edificado sobre uma pequena elevação artificial de terra (em zonas planas) ou no topo de uma colina / duna. Para possibilitar a rotação, o moinho é construído de uma forma em que apenas três partes móveis estão em contacto com o solo:

>>> Duas rodas de madeira, as quais se movimentam numa estrutura / carril circular (usualmente construída em pedra calcária, tábuas de madeira ou no caso dos moinhos mais recentes, em cimento).

>>> Uma grande pedra (por exemplo uma antiga mó), no centro da estrutura circular, a qual serve de base para o eixo de rotação do moinho, em pedra ou em ferro.
 
The Windmill of Casal Novo:

In the village of Casal Novo (in the Civil Parish of Quiaios and Municipality of Figueira da Foz), there is one traditional windmill from this region. This "Moinho de Vento Gandarez" is very visible, as it is located near the EN-109 (National Road 109). It's one of the few remaining windmills, from an ancient past when there were many of them in this region.

After  a long time without traveling in this area, a few months ago i noticed that this windmill was with a different appearence, an indication that it has been restored.
In a conversation with a person from this area, it was told to me that the windmill became again operational after the restoration, but, unfortunately, it was robbed a few months after, by someone who stole a big iron component of the windmill's mechanism. It was very sad to me to hear that.

Today i publish here some photo to ilustrate the evolution of this windmill during the last years. All the photos were taken during bike rides, in April of 2016, January of 2010 and October of 2007. The photos of 2010 and 2007 were used in a video i made in 2011, about this type of traditional windmills. (See the video bellow.)
This type of windmills has some unique features:
- The windmills have a small size and are built almost entirely with wood boards, mainly pine tree wood. This region has a sandy soil, almost without stone, and so, wood and adobes were the main raw materials for construction, in the past.
- They have the shape of an isosceles trapezoid, actually almost triangular, because the building side who face the wind has a very small width, in an empirical aerodynamic design.
- The entire structure of the windmill was designed to be rotated by the physical strenght of only one man (by the miller), around a central axis, to match the sails with the wind direction. So, only three parts of the windmill are in contact with the ground:
>>> The rotation axis, formed by one conic stone above an old mill stone.
>>> Two wooden wheels, who rotate in a circular rail structure (usually made of limestone stones, wooden boards, or in concrete (in the most recent windmills)).



Abril de 2016 / April of 2016:















Janeiro de 2010 / January of 2010:









Outubro de 2007 / October of 2007:







Localização / Location: