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sábado, 3 de abril de 2021

O Prof. José Hermano Saraiva por terras de Cantanhede, Figueira da Foz e Montemor-o-Velho:

O saudoso Prof. José Hermano Saraiva (clicar para mais informações), conhecido historiador e sobretudo um grande comunicador, faleceu há quase uma década. Ficou conhecido do grande público devido aos programas televisivos que gravou para a RTP, onde divulgou a História de Portugal numa linguagem simples, frontal, apelativa e emotiva, bastante acessível ao grande público, mesmo aquele menos letrado.

Alguns dos seus programas televisivos de História foram gravados nesta região. Destaco um episódio do programa Horizontes da Memória de 2000, gravado no Concelho de Cantanhede, episódio esse bastante abrangente, que percorreu localidades como Cantanhede, Praia da Tocha, Febres ou Ançã, onde foram explicadas as particularidades distintas das duas sub-regiões naturais da Gândara e Bairrada (ver o primeiro vídeo).

Existem também vários programas gravados na Figueira da Foz e em Montemor-o-Velho. São programas menos abrangentes, com temáticas mais circunscritas às áreas urbanas das localidades da Figueira da Foz ou Montemor-o-Velho em si e menos aos restantes territórios dos seus concelhos (e portanto sem referências à parte gandaresa dos respectivos municípios), mas também os coloco aqui pelo seu interesse histórico.


History documentaries (for television) recorded by Professor José Hermano Saraiva, in the municipalities of Cantanhede,  Figueira da Foz and Montemor-o-Velho:

Professor José Hermano Saraiva (click here for more informations), was a portuguese historian and, above all, a great televison comunicator. He is very known in Portugal for his television documentaries about many aspects of History of Portugal, recorded in a language very simple, emotional and easy to understand.

Today i present here some of his History programs, mainly about Local History, recorded in the Municipalities of Cantanhede, Figueira da Foz and Montemor-o-Velho. They are spoken in Portuguese, but it is possible to use the Youtube menus to have reading subtitles in English.


Cantanhede:




Figueira da Foz:





Montemor-o-Velho:


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Era Uma Vez o Homem Que Prometia Pegas (Aves)...

A pega é uma ave bastante comum em Portugal, conhecida por Pega-rabuda ou Pega-rabilonga (Pica pica) (clicar). Em tempos antigos, havia na Gândara o hábito de obter pegas para as conservar em gaiolas como aves domésticas. São aves inteligentes que também conseguem imitar alguns sons humanos ou do ambiente que as rodeia. Entenda-se assim que a pega era uma espécie de "papagaio dos pobres", uma ave de companhia acessível a pessoas de baixa condição económica.

Mas continuemos...
 
O Ti Manel do Forno faleceu há poucos anos, já em idade avançada, octogenário, mas quase nonagenário. Manuel de nome próprio, ganhou o apelido popular "do Forno" por ter sido proprietário de um forno de cal que laborou durante algumas décadas a Norte da aldeia da Caniceira (na Freguesia da Tocha e Concelho de Cantanhede), onde este homem viveu a sua vida. 

Alguns dos edifícios de apoio desse forno de cal ainda existem, próximos da Estrada Nacional 109 (a Norte da Caniceira), embora o velho forno propriamente dito já não exista, pois foi demolido há uns anos. Estando em desuso e sem manutenção há muito tempo, o forno encontrava-se em risco de ruir e, estando num local facilmente acessível, eram muitos os curiosos que tinham o hábito de entrar lá dentro, logo existia uma possível situação trágica à espera de acontecer, enquadrando-se assim a demolição no velho ditado português de que vale mais prevenir do que remediar.


Pouco há a dizer do Ti Manel do Forno em particular, foi mais um homem simples e modesto, com as suas virtudes e os seus defeitos, mais um dos muitos milhões de seres humanos que passaram por este mundo de forma praticamente anónima (sem terem conseguido garantir a imortalidade do seu nome e do seu legado, uma vez que não se destacaram em vida em áreas como a política, as ciências, as artes ou a economia). Foi mais um dos muitos milhões de seres humanos que apenas deixaram descendência para a posteridade e algumas recordações naqueles que privaram com ele.

E esses terão certamente na memória a brincadeira carinhosa que o Ti Manel do Forno costumava fazer com as pessoas que ia conhecendo, sobretudo a crianças e jovens (mais crédulos, ingénuos e receptivos), mas também a adultos e idosos. Depois de uma curta conversa de circunstância, ganha a confiança e a empatia do interlocutor, o Ti Manel costumava perguntar às pessoas se queriam uma pega. Tão boas eram as referências que fazia à ave, que a resposta do interlocutor à oferta era invariavelmente positiva. E ficava a promessa da entrega da pega num futuro indefinido.

Quando uma dessas pessoas voltava a encontrar de novo o Ti Manel, era comum a conversa da pega vir à baila, sempre num clima de boa disposição:
- Então ó Ti Manel, e a minha pega, quando é que ma dá?
O rol de justificações do Ti Manel era invariavelmente:
- Não me esqueci da tua pega, mas este foi um ano mau para elas, em que elas mal criaram, não consegui descobrir nenhum ninho delas...
Ou:
- Tens de esperar mais uns meses, ter paciência, que ainda não está na altura de elas criarem...

Como o leitor já deve ter percebido, essa pega nunca era entregue, nem consta que alguma tenha sido alguma vez entregue.
Mas fica a boa memória do homem e da sua brincadeira carinhosa, que praticou durante décadas com muitas das pessoas que ia conhecendo. Devem existir umas boas centenas de gandareses, desde jovens a idosos, a quem o Ti Manel do Forno terá um dia prometido oferecer uma pega.

Eu fui um deles e conheço alguns outros. E o leitor, foi uma dessas pessoas? Se foi, poderá utilizar a caixa dos comentários para contar a sua história pessoal da pega prometida que esperou em vão.



Localização da aldeia da Caniceira:


Localização do antigo forno de cal do Ti Manel do Forno:

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Área Ardida no Grande Incêndio de 15-16 de Outubro de 2017:

 
Burnt areas in the great fire of 15 and 16 October of 2017:

The days 15 (a Sunday) and 16 (a Monday) of October of 2017 were days of tragedy in the Center Region of Portugal, with several huge fires devastating the region and causing more than 40 deaths.

In 15 of October, in a day with unusual weather conditions for this time of year, with high temperatures, very low humidity and strong winds, in a year of extreme drought, more than 500 fires started in the whole country in just one day, with several becoming huge fires, mainly in the Center Region. There are obvious suspicions that organised crime is behind many of these fires.

One of these huge fires devastated the sub-region of Gândara during two days (15 and 16), causing unthinkable damages in the municipalities of Mira (most devastated municipality), Cantanhede, Figueira da Foz and Vagos, destroying forestry areas, agricultural lands, houses, factories and vehicles.
This fire devastated nearly three quarters of the area of my Civil Parish, Tocha.

I made a few prints of maps, using this site (click), showing the burnt areas in the sub-region of Gândara and in the Center Region of Portugal (areas in orange and red, during the fires of 15 and 16 of October of 2017, and since the beginning of the year (areas in yellow and light blue)).
  

Área Ardida no Grande Incêndio de 15-16 de Outubro de 2017: 
(Actualizado em 25/10/2017:)
Tal como milhares de Gandareses, ainda estou incrédulo e sem palavras para exprimir o que sinto em relação ao desastre que se abateu sobre esta região nos dias 15 e 16 de Outubro de 2017 (um Domingo e uma Segunda-feira), em que um terrível incêndio devastou a maior parte das áreas de florestas nacionais e terrenos privados do Litoral da Gândara, com prejuízos incalculáveis em habitações e seus anexos, instalações industriais, matas nacionais, plantações de árvores para produção de madeiras industriais ou de fruticultura, terrenos agrícolas e veículos. Em termos pessoais, também tive alguns prejuízos, mas tenho consciência de que há milhares de pessoas que certamente estarão muito pior do que eu. 
Fazendo uma estimativa por alto, pela visualização de mapas e pelas voltas que já dei pelo terreno, diria que cerca de 3/4 da área da minha freguesia (Tocha) terá ardido neste incêndio.

Este incêndio começou ao princípio da tarde do dia 15/10/2017, na freguesia de Quiaios, no Concelho da Figueira da Foz, e propagou-se rapidamente para Norte, por acção dos ventos fortes, atingindo sucessivamente os concelhos de Cantanhede, Mira e Vagos.

E apesar de tudo isto, a destruição ocorrida na Gândara foi apenas uma parte da destruição total que se abateu sobre Portugal e sobretudo sobre a Região Centro do país, nestes dias fatídicos. Foi no Interior-Centro do País que se concentrou a maior parte da área ardida, a quase totalidade das mais de 40 vítimas mortais (que já ultrapassam as 100 em 2017), bem como o maior número de habitações e instalações empresariais destruídas, não esquecendo as pessoas desalojadas.

Sobre as origens destes incêndios, muito haveria para falar.

Tentando resumir os acontecimentos, nestes dias, factores meteorológicos pouco comuns causaram temperaturas elevadas para a época do ano, com humidade do ar reduzida e ventos fortes a soprarem de direcções distintas, num ano de seca extrema com severos efeitos na vegetação e nos solos. Possivelmente efeitos nefastos do Aquecimento Global.

Há fortes suspeitas, enraizadas nas populações locais, de que estas condições naturais explosivas terão sido aproveitadas ao máximo por organizações criminosas bem organizadas, porque é muito difícil acreditar que os mais de 500 incêndios que surgiram em Portugal no dia 15/10/2017, tenham sido todos causados por pirómanos incendiários individuais, negligência humana (queimadas, cigarros...) ou causas naturais. A isto se junta o histórico de casos suspeitos do passado. Ou os números extraordinários de incêndios que começam de noite e madrugada. E mais não digo...

O facto é que no dia 15/10/2017 ocorreram dezenas de incêndios de grande dimensão por todo o país, sobretudo no Centro e Norte de Portugal Continental.

Com esta dispersão de grandes incêndios, tornou-se difícil enviar reforços em bombeiros, viaturas e meios aéreos para outras regiões, impedindo a concentração de meios que é possível quando há apenas um ou dois incêndios de grande dimensão a ocorrerem no país.

Como resultado deste contexto, as várias regiões afectadas pelos grandes incêndios quase só puderam contar com os meios das corporações locais de bombeiros, em homens e viaturas, bem como das próprias populações locais, que se mobilizaram com as suas ferramentas e alfaias agrícolas. E estes meios reduzidos foram manifestamente insuficientes para travar os enormes incêndios que ocorreram, apesar da entrega e heroísmo de quem esteve no terreno. Com algumas dezenas de homens e viaturas não é possível controlar frentes de incêndio de muitas dezenas de quilómetros.
O próprio David da Bíblia tinha maiores probabilidades de sucesso quando lutou contra Golias.

Este contexto desfavorável obviamente não iliba de sérias responsabilidades o Governo actual e os anteriores, porque muito foi negligenciado ao nível da prevenção, da organização e coordenação de meios, da dotação de meios humanos e materiais, do planeamento florestal e urbano, bem como da investigação e punição de comportamentos criminosos. O facto de aproximadamente metade da área ardida na Europa se situar num único país, Portugal, é um sintoma evidente de que algo vai muito mal por cá.


Voltando à Sub-Região da Gândara, para dar ao leitor uma ideia aproximada das áreas afectadas por este grande incêndio, tirei alguns prints da área ardida no site no Programa Copernicus, da União Europeia:




(Aconselho também a abrir esta imagem:)









Área ardida nas zonas mais afectadas da Região Centro, durante a última semana:



Área ardida nas zonas mais afectadas da Região Centro, desde o início do ano, englobando a semana passada (áreas a vermelho) e desde o início do ano (áreas a azul-claro, amarelo e laranja), englobando por exemplo a área atingida pelos trágicos incêndios de Pedrógão Grande (que provocaram 64 vítimas mortais), ou, para dar um exemplo mais perto da Gândara, os incêndios que ocorreram este Verão entre Cantanhede, Mealhada e Coimbra:

As áreas coloridas representam a área que já ardeu nesta parte da Região Centro durante este ano, a laranja na semana passada, a amarelo durante o mês passado e a azul-claro desde o início do ano. Foi um ano absolutamente catastrófico para a Região Centro!



Antes deste incêndio de proporções que antes eram inimagináveis para os gandareses, a referência anterior em termos de pior catástrofe era o grande incêndio ocorrido no Verão de 1993, que durante uns três ou quatro dias devastou a floresta litoral da Gândara, entre a Figueira da Foz e Mira.

Se o leitor quiser obter informações históricas sobre o grande incêndio de 1993, que agora certamente cairá no esquecimento, poderá consultar este estudo científico:

https://www.uc.pt/fluc/nicif/Publicacoes/Colectaneas_Cindinicas/Download/Colecao_IV/Artigo_VII.pdf



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

O filme "Uma Abelha na Chuva":



Depois de há uns meses eu ter escrito um artigo sobre o filme português "A Promessa" (clicar para o ler), hoje falo sobre uma outra incursão do Cinema Português por terras gandaresas.
"Uma Abelha na Chuva" é um filme português concluído em 1971-1972 (mas que terá começado a ser rodado alguns anos antes), realizado pelo cineasta português Fernando Lopes (clicar), com argumento baseado num romance homónimo do escritor Carlos de Oliveira (clicar), o qual teve uma forte relação com a Vila de Febres (no Concelho de Cantanhede, onde viveu parte da sua vida) e com a Região da Gândara, a qual lhe serviu de inspiração para uma grande parte da sua obra literária. Em homenagem a este escritor, o Município de Cantanhede criou um prémio literário com o seu nome.
Para quem quiser saber mais sobre este filme, poderá obter informações mais completas neste blog (clicar), na Wikipédia (clicar) ou na descrição existente nesta página do Youtube (clicar).
 
No primeiro minuto do filme são visíveis alguns planos exteriores onde aparecem alguns "Palheiros" da Praia da Tocha (antigas habitações tradicionais já quase desaparecidas), bem como um plano exterior do largo e Igreja Matriz da Tocha. Perto do fim do filme, voltam a aparecer planos exteriores destes dois locais.
Aos 56:25 do vídeo do filme, são apresentadas imagens de vários homens e mulheres anónimos, nos seus afazeres ou conversas durante uma feira ou mercado. Pelo trajar dessas pessoas, nomeadamente uma senhora idosa com o típico chapéu de gandaresa, é bem possível que essas imagens tenham sido recolhidas durante uma Feira ou Mercado Dominical da Gândara, talvez mesmo numa Feira da Tocha, embora eu não tenha a certeza do que escrevo. Talvez algum leitor mais velho ainda reconheça algumas das pessoas que figuram nas imagens.


The Film "A Bee in the Rain":

"Uma Abelha na Chuva", which can be translated to "A Bee in the Rain", is a portuguese film from 1971-1972, made by the portuguese director Fernando Lopes (click to read more), with a script based in a novel with the same name, written by Carlos de Oliveira (click to read more), a portuguese writer, who not only lived his youth in this region (in the small town of Febres), but also was inspired by the region in his writings.

Some images of the film were filmed in this region.
In the begining of the film, during the first minute, there are a few images filmed in Praia da Tocha (Tocha Beach), showing a few "Palheiros" (traditional wooden houses), and in Tocha (who in the 70's was a village and now is a small town), showing the large square and the church. Near the end of the film, there are other images filmed in these two places.

At 56:25 (see the video above), there are a few images of several anonymous men and women, from the people, dressed with traditional clothes, talking, bargaining, selling or buying things in a traditional fair / market. I think there is a possibility that these images were filmed in Tocha, but i'm not sure about that.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O filme "A Promessa" e a Praia da Tocha:


Recentemente voltei a reencontrar o filme "A Promessa" no Youtube (o primeiro vídeo em cima). Vi este filme pela primeira vez há uns 20 anos, na velha RTP 2, mas desde então não voltei a ter oportunidade de o rever, até agora.
"A Promessa" (clicar aqui ou aqui para obter mais informações), é um filme português de 1972-1973 (encontro informações com ambas as datas), realizado pelo cineasta António de Macedo (clicar). Tem como actores principais Guida Maria e Sinde Filipe, dois actores relativamente bem conhecidos pela generalidade do público português, sobretudo pela sua presença frequente em telenovelas e séries exibidas pelos canais nacionais de televisão, embora também tenham longas carreiras no teatro e no cinema.

E qual o motivo porque apresento este filme neste blog? 

Resolvi apresentar este filme neste blog porque ele constitui um documento muito importante sobre a história da Praia da Tocha (na Freguesia da Tocha e Concelho de Cantanhede), localidade também conhecida pela antiga designação de Palheiros da Tocha, pela qual ainda é denominada em muitos mapas.

Muitas das cenas exteriores deste filme de 1972-1973 (embora não todas), foram rodadas na Praia da Tocha, tendo algumas delas tido como cenário os Palheiros, antigas habitações tradicionais de madeira que durante muito tempo constituíram a quase totalidade das habitações desta localidade (clicar aqui para ler um artigo do blog dedicado aos antigos palheiros da Praia da Tocha, ou aqui, para ler um outro artigo dedicado aos actuais palheiros), até começarem a desaparecer durante as décadas de 70, 80 e princípios dos anos 90, substituídos por habitações modernas. No filme podemos ver em pormenor o aspectos exterior de dezenas destas habitações tradicionais entretanto desaparecidas, algumas das quais nunca foram captadas em fotografia para a posteridade.

Neste filme participaram muitos habitantes locais, como figurantes, embora os seus nomes não figurem na reduzida ficha técnica do filme, como era normal naquele tempo. Contudo, em abono da verdade, há que referir que a ficha técnica inclui uma referência à população local. 

Já ouvi falar no caso específico de alguns desses figurantes, neste caso algumas senhoras idosas das Berlengas (nome de uma localidade desta freguesia). Penso que também terão participado algumas pessoas da região em papéis secundários, pessoas essas com alguma experiência em teatro amador, embora eu não tenha a certeza disso. 
O filme também teve uma cena interior filmada na Igreja Matriz da Tocha, que aparece igualmente num curto plano exterior que a antecede. A maior parte das cenas de interiores do filme foram rodadas num estúdio, em Lisboa.

Apresento também um segundo vídeo encontrado no Youtube, de uma entrevista ao realizador do filme, António de Macedo, efectuada pela Bairrada TV em 2014. Nesta entrevista o realizador aborda a sua carreira cinematográfica e fala em especial deste filme, de como nasceu o projecto, da escolha dos locais onde filmou, de várias histórias passadas durante a rodagem do filme, das observações curiosas que fez da cultura e dos costumes dos habitantes locais e da forma como o filme foi recebido no conceituado Festival de Cannes. Apesar da idade avançada, o realizador apresenta uma lucidez, memória e capacidade de comunicação extraordinários.

Se algum leitor conhecer algumas histórias interessantes relacionadas com a rodagem deste filme, por ter assistido a ela na época ou por histórias que ouviu contar de pessoas mais idosas, peço-lhe que utilize a caixa dos comentários para partilhar connosco o que sabe acerca dele.

The film "A Promessa" (The Vows) and Praia da Tocha:

Recently i found the portuguese film "A Promessa" (The Vows) on Youtube (see the first video). I saw this filme some twenty years ago, in RTP 2, a portuguese televison channel dedicated to cultural subjects, but not since then.

"A Promessa" is a portuguese film made in 1972-1973 (click here to know more about it (or, in alternative, click here)), by the film director António de Macedo (click to know more about him).

I chose to present this film because it is an important document about the history of Praia da Tocha (Tocha Beach), also known as Palheiros da Tocha, a coastal village near the sea, located in the Civil Parish of Tocha and Municipality of Cantanhede.

Most outside scenes of this film were filmed in Praia da Tocha, around 1972-1973, showing the sea, the dunes, the forest and, the most important, the "Palheiros", traditional wooden houses, very small in size, who were typical of this village. I said "were typical", because most of the Palheiros disappeared during the 70s, 80s and early 90s, being replaced by modern houses.


Many local inhabitants participated in the film, as movie extras. I think that a few other inhabitants of this region, with some experience in amateur theater, appeared in a few supporting or secondary roles, but i'm not sure about it.

If you want to know more about the "Palheiros", read this two articles of this blog:
- The  “Palheiros” of Tocha Beach (click):
- The "Palheiros" and traditional houses of Tocha Beach (click):
 
The second video is an interview to the film director António de Macedo (made by Bairrada TV, an internet TV channel from the region), about his career and this movie, but infortunately it is only available in portuguese.


Praia da Tocha / Palheiros da Tocha:

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Era uma vez a Gândara dos Manuéis e das Marias:



Estas duas fotos foram tiradas em Abril de 2016 na Sanguinheira (na Freguesia de Sanguinheira e Concelho de Cantanhede), a um monumento criado em homenagem às pessoas que fizeram parte da Comissão Promotora para a criação da Freguesia da Sanguinheira, daí serem considerados os seus fundadores.

A Freguesia da Sanguinheira é relativamente recente, pois só foi criada em 1986, tendo antes estado integrada na vizinha Freguesia de Cadima, da qual foi desanexada.

Estando explicado o contexto subjacente a este monumento, o que chama a atenção nele?

A mim, o que me chamou a atenção foi o facto de a maior parte dos fundadores da Freguesia terem o nome próprio Manuel!

Entre as gerações mais velhas nascidas na Gândara até meados do século XX, era muito comum dar aos homens o nome Manuel e dar às mulheres o nome Maria. Dando o exemplo da minha família, originária da Sanguinheira de Baixo (pelo lado paterno) e da Tocha (pelo lado materno), ambos os meus dois avôs chamavam-se Manuel, ambas as minhas duas avós chamavam-se Maria, a minha mãe chamava-se Maria (todos infelizmente já falecidos) e tenho um tio Manuel e uma tia Maria!

Contudo, a partir de meados do século XX, este costume ou tradição perdeu-se e surgiu uma maior diversidade na escolha dos nomes próprios para dar às crianças nascidas. E nas crianças nascidas nas últimas décadas, os nomes Manuel ou Maria já são pouco frequentes, até mesmo raros.
 
No Brasil, há um estereótipo ligados aos portugueses, muito utilizado em anedotas, que diz que todo o português se chama Manuel ou Joaquim. No caso do Manuel, talvez a grande emigração da Gândara para o  Brasil, nos princípios do século XX, tenha contribuído para esse estereótipo.

Terá sido bom ou mau esta tradição ter desaparecido da Gândara? Será melhor a existência de uma grande variedade de nomes próprios, mesmo que tenham poucas raízes nesta região? Quem quiser dar a sua opinião, tem a caixa de comentários à sua disposição.


Once upon a time a land full of people named "Manuel" and "Mary":

The two photos above were taken in April of 2016, in the village of Sanguinheira (in the Civil Parish of Sanguinheira and Municipality of Cantanhede). They show a monument created in tribute to the men envolved in the creation of the Civil Parish of Sanguinheira, in 1986. Before 1986, this parish belonged to the neighbouring Civil Parish of Cadima.

What caught my attention in this monument was the fact that most of the men have the given name "Manuel", the portuguese version of "Em(m)anuel" or "Im(ma)nuel".

In the older generations, born in this region until half of the XXth century,  many men were given the name "Manuel" and many women were given the name "Maria" (the portuguese version of "Mary"). This was some kind of tradition among the people of this region.

To give the personal example of my family, my both grandfathers were "Manuel", my both grandmothers were "Maria", my mother was "Maria" (all deceased, unfortunately) and i have one uncle "Manuel" and one aunt "Maria".

But this was a tradition of the older generations. To the new generations, born after the second  half of the 20th century, there is much more diversity of given names. And to the people born in this region during the last decades, now is rare to find someone named "Manuel" or "Maria".

Localização / Location:

quarta-feira, 9 de março de 2016

Ainda há Palheiros na Gândara!

Até há cerca de 20 a 30 anos atrás, os Palheiros faziam parte integrante da paisagem da Gândara. Existiam dezenas de milhares deles espalhados pela região. Quase todos os agregados familiares que se dedicavam à agricultura tradicional tinham vários palheiros nos seus terrenos.
Os Palheiros eram construções tradicionais que serviam para armazenar plantas forrageiras usadas nas alimentação do gado doméstico, sobretudo gado bovino (bois e vacas), ou caprino (cabras), ovino (ovelhas) e asinino (burros), em menor escala. Entre os vários tipos de plantas forrageiras que eram armazenadas nos Palheiros, incluem-se fenos, pastos e a palha do milho. Os Palheiros da Gândara coexistiam com um outro tipo de construção tradicional usada para guardar plantas forrageiras, a "Cabana", de que falarei mais adiante, em outro artigo.

(Não confundir estes "Palheiros" com outro tipo de "Palheiros", pequenas habitações tradicionais de madeira que existiam no passado na Praia da Tocha (ou Palheiros da Tocha), na Praia de Mira (ou Palheiros de Mira) e outras pequenas localidades costeiras da Região Centro, com pequenas diferenças locais na sua construção.)
 
A construção de um palheiro iniciava-se com a colocação de um comprido tronco de madeira (geralmente de pinheiro ou eucalipto), profundamente cravado no solo na vertical, que lhe dava estabilidade e resistência. Depois a palha ia sendo colocada em volta desse tronco, de forma circular, normalmente por uma equipa de duas pessoas (geralmente um casal de agricultores). Uma pessoa ficava no solo a carregar a palha com uma comprida forquilha de madeira (na maior parte das vezes o homem). Essa palha era entregue à pessoa que ficava em cima do palheiro (geralmente a mulher), que a ia colocando no sítio.
Assim o Palheiro ia crescendo lentamente na vertical, podendo atingir 4, 5, 6 ou 7 metros de altura. Acabada a construção do palheiro, a pessoa em cima tinha de descer por uma escada. Depois, durante os meses seguintes, a palha ia sendo retirada lentamente por baixo, à medida que ia sendo necessária para a alimentação do gado, até o palheiro desaparecer por completo e ser substituído por outro.
Devo confessar que passei uma parte da minha infância a brincar nos palheiros dos meus avós (assim como assisti à sua construção), dos quais tenho boas recordações.
Durante as últimas duas a três décadas, os Palheiros foram desaparecendo da Gândara. A Agricultura tradicional declinou e a moderna Agro-Pecuária usa preferencialmente silagens e fardos de palha para conservar as plantas forrageiras usadas na alimentação do gado.
Ainda vão existindo alguns Palheiros pela Gândara, mas já são uma raridade. Daí a minha surpresa em ter encontrado um grupo de palheiros perto de uma casa dos Pelicanos (aldeia localizada na Freguesia de Arazede e no Concelho de Montemor-o-Velho), durante uma volta de bicicleta realizada em Outubro de 2015, dos quais deixo aqui duas fotografias.

There are still "Palheiros" (haystacks) in Gândara:

The "Palheiros" (portuguese word for "haystacks") are traditional constructions, who were very commom in the region of Gândara in the past. The "Palheiros" were used to store several types of hays, used as fodder to feed livestock, mostly cows, but also sheep, goats or donkeys.
There was another traditional type of construction, also used to store hay, but more complex, the "Cabana" (can be translated to "hut"). I will talk about it in other article.

(The word "Palheiro" is also used to designate one type of traditional wooden houses, small in size, who were very commom in the past in Praia da Tocha (Tocha Beach, also known as Palheiros da Tocha) and Praia de Mira (Mira Beach, also known as Palheiros de Mira), that almost disappeared nowadays. Do not confuse the two types of "Palheiros".)


There was another traditional type of construction, also used to store hay, but more complex, the "Cabana" (can be translated to "hut"). I will talk about it in other article.

As i said before, the Palheiros were very commom in the Region, 30 years ago. There were tens of thousands of Palheiros. Almost all people who used to work in the traditional agriculture, had a few palheiros in their lands.

But during the last decades, they disappeared in the region, for several reasons. The traditional economy, based in secular forms of agriculture, colapsed with the economical evolution of the country. In the modern agriculture, livestock animals  are feed with silage or hay bales. So, the traditional palheiros lost their place in local economy.

They almost disappeared in the region, but they are not extint. I present two photos of a group of small "Palheiros" (in the past, they could be bigger, 4 to 7 meters tall). The photos were taken in October of 2015 (during a bike ride), in the village of Pelicanos (means "Pelicans"), located in the Civil Parish of Arazede and in the Municipality of Montemor-o-Velho.


I spent many hours of my childhood playing in the Palheiros of my grandparents!



Localização / Location:

sábado, 5 de março de 2016

Arte Xávega IV-a) - A Arte Xávega no Presente - Praia da Tocha

Apresento um conjunto de fotos tiradas na Praia da Tocha (localidade também conhecida por Palheiros da Tocha), numa manhã de Julho de 2012, que retratam como funciona a Arte Xávega nos dias de hoje. Neste caso particular retratam a faina da "Companha" de pescadores do barco "Pouca Sorte", uma embarcação bastante veterana, com já algumas décadas de pesca na Praia da Tocha. Não sei referir quando este barco foi construído, mas já o conheço em actividade há quase 30 anos.
Não fui suficientemente madrugador para chegar a tempo de fotografar a entrada do barco no mar, mas no fim coloco aqui alguns vídeos, retirados do Youtube, que mostram esse processo.
Today i present a set of photographs taken in "Praia da Tocha" ("Tocha Beach", coastal village also known as Palheiros da Tocha), during an early morning of July of 2012. The photos show the group of fishermen of the (veteran) fishing boat "Pouca Sorte" (means literally "little luck", but must be translated in the meaning of "misfortune", "lack of luck" or "bad luck"). I don't know the story behind the name of this boat, but as i said before, it's a veteran boat, with nearly 30 years of fishing in her wooden hull. This traditional type of fishing is kown as Arte Xávega.

I did not arrived in time to photograph the boat entering the sea, but in the end there are a few videos, taken from the Youtube, where the reader can see this process.













































Alguns vídeos (retirados do Youtube):
A few videos (taken from the Youtube):



Localização / Location: