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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Áreas de possível exploração de caulino:

(Post original de 2014, actualizado em 26/04/2021:)
Num post publicado em 2014, declarei-me contra a exploração de caulino nesta região, porque entendia que a exploração em larga escala de caulino poderá ter consequências graves de longo prazo para a Região da Gândara, ao nível do abastecimento de água, da agricultura (sobretudo nas águas dos poços e subterrâneas), da silvicultura, ambiental e paisagístico, para mais tendo em conta que os possíveis benefícios para as populações locais e autarquias serão bastante reduzidos ou nulos e de curto prazo (clicar para ler o post).

Ora, apercebi-me recentemente que ainda existem entidades interessadas na exploração de caulino nesta zona, e logo num dos piores sítios possíveis, perto da nascente de elevado caudal dos Olhos da Fervença, que abastece de água potável o Concelho de Cantanhede e algumas áreas dos concelhos limítrofes.
Pelas notícias que leio, a Câmara e a Assembleia Municipal de Cantanhede, bem como as Juntas de Freguesia de Cadima, São Caetano e Sanguinheira, manifestaram-se recentemente contra a possibilidade da exploração de caulino nesta área:
Contudo, entendo que esta é uma questão bastante séria, que deve preocupar a generalidade dos habitantes da Gândara e não apenas as autarquias locais, por isso resolvi actualizar este post com os dados de que disponho, para manter em alerta os eventuais leitores deste blog:




(Texto original do post, actualizado em 26/06/2014:)

Num post anterior, expliquei as razões porque não concordava com a exploração em larga escala de caulino na Gândara. Agora deixo aqui um novo post que é sobretudo informativo.
Andei a pesquisar no site da Direcção-Geral de Energia e Geologia as áreas da Gândara onde foi requerida a prospecção e pesquisa de depósitos minerais de caulino e quartzo. Nos concelhos de Cantanhede, Mira e Figueira da Foz, a pesquisa apresentou-me 5 áreas, todas de grande dimensão. Converti os ficheiros PDF em imagens JPG de grande resolução, para que possam ter uma ideia das áreas pretendidas. Visualizem as imagens numa janela à parte, para que as possam analisar em pormenor.
O facto de uma das áreas pretendidas ser nas glebas florestais entre Berlengas e Cochadas, na Freguesia da Tocha, deixou-me particularmente surpreendido. Não deverá existir muito caulino naqueles solos maioritariamente arenosos, mas possivelmente existirá quartzo em abundância nas areias.

As áreas que tenho visto em discussão nas notícias, sites e redes sociais, são as que aparecem nos mapas da 2ª, 3ª e 5ª imagens. Relativamente às áreas representadas na 4ª e 6ª imagens, não sei como está a decorrer o processo.

Actualização em  26/06/2014:

Reparei hoje, por um post numa rede social, https://www.facebook.com/pages/Movimento_-Anti-Caulino-_ferreiraanova/652173718173003?ref=stream, que houve uma outra empresa que pediu a prospecção e pesquisa de caulino em três zonas da Gândara:
> Numa zona compreendida entre Caniceira, Gesteira e Cochadas.
> Zona entre os Olhos da Fervença e a Estrada Cantanhede-Mira. Muito preocupante, por ser demasiado próximo dos Olhos da Fervença!
> Área a sul de Moinhos da Gândara.

Desconheço como se encontram os processos. Mas relembro ao leitor que, somando todas as 8 áreas pedidas, se tratam de áreas que englobam várias dezenas de quilómetros quadrados!


Fonte das imagens: http://www.dgeg.pt/







26/06/2014:



sábado, 3 de abril de 2021

O Prof. José Hermano Saraiva por terras de Cantanhede, Figueira da Foz e Montemor-o-Velho:

O saudoso Prof. José Hermano Saraiva (clicar para mais informações), conhecido historiador e sobretudo um grande comunicador, faleceu há quase uma década. Ficou conhecido do grande público devido aos programas televisivos que gravou para a RTP, onde divulgou a História de Portugal numa linguagem simples, frontal, apelativa e emotiva, bastante acessível ao grande público, mesmo aquele menos letrado.

Alguns dos seus programas televisivos de História foram gravados nesta região. Destaco um episódio do programa Horizontes da Memória de 2000, gravado no Concelho de Cantanhede, episódio esse bastante abrangente, que percorreu localidades como Cantanhede, Praia da Tocha, Febres ou Ançã, onde foram explicadas as particularidades distintas das duas sub-regiões naturais da Gândara e Bairrada (ver o primeiro vídeo).

Existem também vários programas gravados na Figueira da Foz e em Montemor-o-Velho. São programas menos abrangentes, com temáticas mais circunscritas às áreas urbanas das localidades da Figueira da Foz ou Montemor-o-Velho em si e menos aos restantes territórios dos seus concelhos (e portanto sem referências à parte gandaresa dos respectivos municípios), mas também os coloco aqui pelo seu interesse histórico.


History documentaries (for television) recorded by Professor José Hermano Saraiva, in the municipalities of Cantanhede,  Figueira da Foz and Montemor-o-Velho:

Professor José Hermano Saraiva (click here for more informations), was a portuguese historian and, above all, a great televison comunicator. He is very known in Portugal for his television documentaries about many aspects of History of Portugal, recorded in a language very simple, emotional and easy to understand.

Today i present here some of his History programs, mainly about Local History, recorded in the Municipalities of Cantanhede, Figueira da Foz and Montemor-o-Velho. They are spoken in Portuguese, but it is possible to use the Youtube menus to have reading subtitles in English.


Cantanhede:




Figueira da Foz:





Montemor-o-Velho:


sexta-feira, 2 de abril de 2021

Orientação e aproveitamento desportivo do que sobrou da floresta:

Depois do grande incêndio de 15 e 16 de Outubro de 2017, pouco restou da grande floresta costeira que outrora existiu no litoral da Gândara. Ficaram apenas duas pequenas áreas triangulares de floresta nos seus cantos Sudoeste e Noroeste, devidas sobretudo à direção dos ventos nesses dois dias fatídicos (ver primeira imagem).

Essas duas pequenas áreas triangulares de floresta foram utilizadas como cenário do "Portugal "O" Meeting 2019" (clicar para aceder ao site do evento), um evento internacional desportivo de Orientação, de vários dias, que se realizou em Março de 2019, sediado na Figueira da Foz.

Apesar de o evento estar sediado no Concelho da Figueira da Foz e com a maioria das provas realizadas na área florestal próxima de Quiaios, deu um pequeno saltinho de uma manhã até ao Concelho de Cantanhede e Freguesia da Tocha, com uma das provas do evento realizada na pequena área florestal sobrevivente nas imediações da Praia do Palheirão.

Optei por referir este acontecimento pelo facto curioso e insólito de ele ter atraído alguns milhares de pessoas (incluindo muitas centenas de atletas estrangeiros e seus familiares, sobretudo originários de países da Escandinávia e Europa Central ou de Leste) para um canto da Gândara que normalmente permanece deserto e desolado do ponto de vista humano, com exceção dos poucos veraneantes, turistas, curiosos, escuteiros, pescadores ou nudistas que se aventuram até à Praia Deserta do Palheirão, situada nas proximidades, sobretudo no Verão ou final da Primavera.

Esta presença de uma multidão de forasteiros e estrangeiros na Gândara, para mais num cantinho remoto da sub-região, também contrasta fortemente com o contexto da actual pandemia global de COVID-19, que veio alterar radicalmente a vida quotidiana das sociedades humanas.

Deixo então algumas fotos do evento, tiradas em Março de 2019, durante uma volta matinal de bicicleta:














Localização:

sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Botas velhas para novos ninhos:

Hoje deixo aqui mais umas fotos interessantes e invulgares, de um reaproveitamento de botas velhas (cujo destino normal seria o lixo), para servirem de abrigo para a construção de novos ninhos de pássaros. Nas proximidades, existe um outro abrigo para ninhos de pássaros, este construído com vasos com buracos.
Estes abrigos para pássaros encontram-se no beiral de uma residência particular, situada algures na zona sul da Freguesia da Tocha, num local bastante calmo. (Neste post também decidi não revelar a localização exacta desta casa.) 
As fotos foram tiradas em Dezembro de 2019, durante uma volta de bicicleta matinal.
A título de curiosidade, deixo aqui os links para dois outros posts sobre locais invulgares para ninhos de pássaros, ambos em tempos publicados neste blog:
Old boots for new nests:
Today i publish two photos about the reuse of old boots, to make shelters for bird nests. In the second photograph, there are also a few shelters for nests of another type, made of plastic pots with holes. 
These shelters are under the roof of an house, located somewhere in the south area of the civil parish of Tocha, in the municipality of Cantanhede. The photos were taken in December of 2019.
The two links above, in the end of the portuguese text, are about two other past posts of this blog, with photos of unusual bird nests.




quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Toneladas e toneladas de madeira do quem em tempos foi uma floresta:


Há precisamente dois anos, nos dias 15 e 16 de Outubro de 2017, um gigantesco incêndio arrasou grande parte da Gândara, sobretudo a metade litoral e oeste desta sub-região. Iniciou-se na Freguesia de Quiaios (no Concelho da Figueira da Foz), avançando rapidamente e descontroladamente para Norte, só tendo parado já no Concelho de Aveiro.

A consequência obviamente mais visível desta catástrofe foi a destruição da imensa paisagem florestal da Gândara, quer nas matas nacionais, quer em inúmeras plantações de árvores privadas, embora também tenha causado avultados prejuízos em infraestruturas industriais, casas de habitação, veículos e explorações agrícolas e/ou pecuárias. Felizmente, neste canto do país, não houve perda de vidas humanas a lamentar. Outros recantos do Portugal esquecido e ostracizado tiveram menos sorte... 

Este incêndio foi um dos principais ocorridos no terrível ano de 2017, o pior de sempre em Portugal (pelo menos desde que há registos estatísticos), com mais de meio-milhão de hectares de área ardida e a perda de mais de uma centena de vidas humanas. Devastação esta que arrasou sobretudo a Zona Centro do país.

A partir das duas imagens seguintes, que aconselho os leitores a ampliar e visualizar em outra janela do browser, dá para ter uma ideia precisa da área destruída na Gândara no grande incêndio de 15-16 de Outubro de 2017, bem como da área ardida na Região Centro no ano de 2017, esse terrível ano de péssimas memórias, que todos esperamos que nunca mais se repita:




Para recordar esta triste efeméride, (e também para tentar ressuscitar este blog, que anda há quase dois anos voltado ao abandono, por minha culpa), deixo aqui algumas fotos, tiradas em Agosto de 2019 (durante uma volta de bicicleta), de um local de armazenamento temporário de muitas toneladas de madeira queimada (possivelmente um valor na casa das milhares de toneladas), provenientes de milhares de antigos pinheiros que em tempos fizeram parte da grande floresta costeira da Gândara, que os nossos antepassados criaram com tanto trabalho e despesa nas décadas de 20 e 30 do século XX, onde antes havia um deserto de dunas arenosas.

Esta madeira queimada encontra-se temporariamente armazenada no antigo e abandonado Campo de Futebol das Levadias, que foi durante aproximadamente três décadas a casa da União Desportiva da Tocha, até esta agremiação desportiva transferir as suas actividades para o Complexo Desportivo da Tocha, situado nas proximidades.

Neste local de antigas memórias desportivas, esta imensa quantidade acumulada de madeira queimada, testemunho silencioso do que em tempos foi uma floresta, aguarda o seu transporte para outras zonas do país, onde será feito o seu aproveitamento industrial.


Quando houver na Gândara uma nova floresta de árvores crescidas digna desse nome, se ela voltar a existir, possivelmente tal demorará tanto tempo que já cá não estarei e pouco restará dos meus ossos, muito menos dos meus olhos para a poder observar ou dos meus pés para a poder calcorrear novamente. Triste realidade...












Localização:

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Era Uma Vez o Homem Que Prometia Pegas (Aves)...

A pega é uma ave bastante comum em Portugal, conhecida por Pega-rabuda ou Pega-rabilonga (Pica pica) (clicar). Em tempos antigos, havia na Gândara o hábito de obter pegas para as conservar em gaiolas como aves domésticas. São aves inteligentes que também conseguem imitar alguns sons humanos ou do ambiente que as rodeia. Entenda-se assim que a pega era uma espécie de "papagaio dos pobres", uma ave de companhia acessível a pessoas de baixa condição económica.

Mas continuemos...
 
O Ti Manel do Forno faleceu há poucos anos, já em idade avançada, octogenário, mas quase nonagenário. Manuel de nome próprio, ganhou o apelido popular "do Forno" por ter sido proprietário de um forno de cal que laborou durante algumas décadas a Norte da aldeia da Caniceira (na Freguesia da Tocha e Concelho de Cantanhede), onde este homem viveu a sua vida. 

Alguns dos edifícios de apoio desse forno de cal ainda existem, próximos da Estrada Nacional 109 (a Norte da Caniceira), embora o velho forno propriamente dito já não exista, pois foi demolido há uns anos. Estando em desuso e sem manutenção há muito tempo, o forno encontrava-se em risco de ruir e, estando num local facilmente acessível, eram muitos os curiosos que tinham o hábito de entrar lá dentro, logo existia uma possível situação trágica à espera de acontecer, enquadrando-se assim a demolição no velho ditado português de que vale mais prevenir do que remediar.


Pouco há a dizer do Ti Manel do Forno em particular, foi mais um homem simples e modesto, com as suas virtudes e os seus defeitos, mais um dos muitos milhões de seres humanos que passaram por este mundo de forma praticamente anónima (sem terem conseguido garantir a imortalidade do seu nome e do seu legado, uma vez que não se destacaram em vida em áreas como a política, as ciências, as artes ou a economia). Foi mais um dos muitos milhões de seres humanos que apenas deixaram descendência para a posteridade e algumas recordações naqueles que privaram com ele.

E esses terão certamente na memória a brincadeira carinhosa que o Ti Manel do Forno costumava fazer com as pessoas que ia conhecendo, sobretudo a crianças e jovens (mais crédulos, ingénuos e receptivos), mas também a adultos e idosos. Depois de uma curta conversa de circunstância, ganha a confiança e a empatia do interlocutor, o Ti Manel costumava perguntar às pessoas se queriam uma pega. Tão boas eram as referências que fazia à ave, que a resposta do interlocutor à oferta era invariavelmente positiva. E ficava a promessa da entrega da pega num futuro indefinido.

Quando uma dessas pessoas voltava a encontrar de novo o Ti Manel, era comum a conversa da pega vir à baila, sempre num clima de boa disposição:
- Então ó Ti Manel, e a minha pega, quando é que ma dá?
O rol de justificações do Ti Manel era invariavelmente:
- Não me esqueci da tua pega, mas este foi um ano mau para elas, em que elas mal criaram, não consegui descobrir nenhum ninho delas...
Ou:
- Tens de esperar mais uns meses, ter paciência, que ainda não está na altura de elas criarem...

Como o leitor já deve ter percebido, essa pega nunca era entregue, nem consta que alguma tenha sido alguma vez entregue.
Mas fica a boa memória do homem e da sua brincadeira carinhosa, que praticou durante décadas com muitas das pessoas que ia conhecendo. Devem existir umas boas centenas de gandareses, desde jovens a idosos, a quem o Ti Manel do Forno terá um dia prometido oferecer uma pega.

Eu fui um deles e conheço alguns outros. E o leitor, foi uma dessas pessoas? Se foi, poderá utilizar a caixa dos comentários para contar a sua história pessoal da pega prometida que esperou em vão.



Localização da aldeia da Caniceira:


Localização do antigo forno de cal do Ti Manel do Forno:

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Elas Sobreviveram ao Incêndio! Mas Sobreviverão à Seca?


Num dos últimos dias de Outubro de 2017, durante uma das voltas de bicicleta que dei para ver a destruição causada pelo grande incêndio que devastou a Gândara nesse mês, encontrei algumas dezenas de Rãs (espécimes de Rã-verde ou Rã-comum (Rana perezi ou Pelophylax perezi)), concentradas numa minúscula poça de água com alguns escassos centímetros de profundidade, no fundo de um buraco, localizado na floresta, na Freguesia da Tocha e Concelho de Cantanhede. Foi um momento de alegria efémera no meio de horas de profunda tristeza, por vislumbrar alguma vida no meio daquele cenário dantesco de quilómetros e quilómetros seguidos de destruição.
Penso que os buracos como este, dos quais existem algumas dezenas na floresta, terão sido escavados pelos Serviços Florestais nos anos 90, para os animais selvagens que deambulam pela floresta poderem beber água.

Não deixa de ser curiosa e trágica a situação destas Rãs. Elas conseguiram sobreviver mesmo no meio do terrível incêndio, que destruiu quase todas as árvores existentes num raio de alguns quilómetros em redor do pequeno charco delas. Contudo, elas arriscam-se a morrer devido à seca extrema que atinge o país, se esta minúscula poça de água secar por completo.
Conseguirão elas sobreviver?










Localização:


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Área Ardida no Grande Incêndio de 15-16 de Outubro de 2017:

 
Burnt areas in the great fire of 15 and 16 October of 2017:

The days 15 (a Sunday) and 16 (a Monday) of October of 2017 were days of tragedy in the Center Region of Portugal, with several huge fires devastating the region and causing more than 40 deaths.

In 15 of October, in a day with unusual weather conditions for this time of year, with high temperatures, very low humidity and strong winds, in a year of extreme drought, more than 500 fires started in the whole country in just one day, with several becoming huge fires, mainly in the Center Region. There are obvious suspicions that organised crime is behind many of these fires.

One of these huge fires devastated the sub-region of Gândara during two days (15 and 16), causing unthinkable damages in the municipalities of Mira (most devastated municipality), Cantanhede, Figueira da Foz and Vagos, destroying forestry areas, agricultural lands, houses, factories and vehicles.
This fire devastated nearly three quarters of the area of my Civil Parish, Tocha.

I made a few prints of maps, using this site (click), showing the burnt areas in the sub-region of Gândara and in the Center Region of Portugal (areas in orange and red, during the fires of 15 and 16 of October of 2017, and since the beginning of the year (areas in yellow and light blue)).
  

Área Ardida no Grande Incêndio de 15-16 de Outubro de 2017: 
(Actualizado em 25/10/2017:)
Tal como milhares de Gandareses, ainda estou incrédulo e sem palavras para exprimir o que sinto em relação ao desastre que se abateu sobre esta região nos dias 15 e 16 de Outubro de 2017 (um Domingo e uma Segunda-feira), em que um terrível incêndio devastou a maior parte das áreas de florestas nacionais e terrenos privados do Litoral da Gândara, com prejuízos incalculáveis em habitações e seus anexos, instalações industriais, matas nacionais, plantações de árvores para produção de madeiras industriais ou de fruticultura, terrenos agrícolas e veículos. Em termos pessoais, também tive alguns prejuízos, mas tenho consciência de que há milhares de pessoas que certamente estarão muito pior do que eu. 
Fazendo uma estimativa por alto, pela visualização de mapas e pelas voltas que já dei pelo terreno, diria que cerca de 3/4 da área da minha freguesia (Tocha) terá ardido neste incêndio.

Este incêndio começou ao princípio da tarde do dia 15/10/2017, na freguesia de Quiaios, no Concelho da Figueira da Foz, e propagou-se rapidamente para Norte, por acção dos ventos fortes, atingindo sucessivamente os concelhos de Cantanhede, Mira e Vagos.

E apesar de tudo isto, a destruição ocorrida na Gândara foi apenas uma parte da destruição total que se abateu sobre Portugal e sobretudo sobre a Região Centro do país, nestes dias fatídicos. Foi no Interior-Centro do País que se concentrou a maior parte da área ardida, a quase totalidade das mais de 40 vítimas mortais (que já ultrapassam as 100 em 2017), bem como o maior número de habitações e instalações empresariais destruídas, não esquecendo as pessoas desalojadas.

Sobre as origens destes incêndios, muito haveria para falar.

Tentando resumir os acontecimentos, nestes dias, factores meteorológicos pouco comuns causaram temperaturas elevadas para a época do ano, com humidade do ar reduzida e ventos fortes a soprarem de direcções distintas, num ano de seca extrema com severos efeitos na vegetação e nos solos. Possivelmente efeitos nefastos do Aquecimento Global.

Há fortes suspeitas, enraizadas nas populações locais, de que estas condições naturais explosivas terão sido aproveitadas ao máximo por organizações criminosas bem organizadas, porque é muito difícil acreditar que os mais de 500 incêndios que surgiram em Portugal no dia 15/10/2017, tenham sido todos causados por pirómanos incendiários individuais, negligência humana (queimadas, cigarros...) ou causas naturais. A isto se junta o histórico de casos suspeitos do passado. Ou os números extraordinários de incêndios que começam de noite e madrugada. E mais não digo...

O facto é que no dia 15/10/2017 ocorreram dezenas de incêndios de grande dimensão por todo o país, sobretudo no Centro e Norte de Portugal Continental.

Com esta dispersão de grandes incêndios, tornou-se difícil enviar reforços em bombeiros, viaturas e meios aéreos para outras regiões, impedindo a concentração de meios que é possível quando há apenas um ou dois incêndios de grande dimensão a ocorrerem no país.

Como resultado deste contexto, as várias regiões afectadas pelos grandes incêndios quase só puderam contar com os meios das corporações locais de bombeiros, em homens e viaturas, bem como das próprias populações locais, que se mobilizaram com as suas ferramentas e alfaias agrícolas. E estes meios reduzidos foram manifestamente insuficientes para travar os enormes incêndios que ocorreram, apesar da entrega e heroísmo de quem esteve no terreno. Com algumas dezenas de homens e viaturas não é possível controlar frentes de incêndio de muitas dezenas de quilómetros.
O próprio David da Bíblia tinha maiores probabilidades de sucesso quando lutou contra Golias.

Este contexto desfavorável obviamente não iliba de sérias responsabilidades o Governo actual e os anteriores, porque muito foi negligenciado ao nível da prevenção, da organização e coordenação de meios, da dotação de meios humanos e materiais, do planeamento florestal e urbano, bem como da investigação e punição de comportamentos criminosos. O facto de aproximadamente metade da área ardida na Europa se situar num único país, Portugal, é um sintoma evidente de que algo vai muito mal por cá.


Voltando à Sub-Região da Gândara, para dar ao leitor uma ideia aproximada das áreas afectadas por este grande incêndio, tirei alguns prints da área ardida no site no Programa Copernicus, da União Europeia:




(Aconselho também a abrir esta imagem:)









Área ardida nas zonas mais afectadas da Região Centro, durante a última semana:



Área ardida nas zonas mais afectadas da Região Centro, desde o início do ano, englobando a semana passada (áreas a vermelho) e desde o início do ano (áreas a azul-claro, amarelo e laranja), englobando por exemplo a área atingida pelos trágicos incêndios de Pedrógão Grande (que provocaram 64 vítimas mortais), ou, para dar um exemplo mais perto da Gândara, os incêndios que ocorreram este Verão entre Cantanhede, Mealhada e Coimbra:

As áreas coloridas representam a área que já ardeu nesta parte da Região Centro durante este ano, a laranja na semana passada, a amarelo durante o mês passado e a azul-claro desde o início do ano. Foi um ano absolutamente catastrófico para a Região Centro!



Antes deste incêndio de proporções que antes eram inimagináveis para os gandareses, a referência anterior em termos de pior catástrofe era o grande incêndio ocorrido no Verão de 1993, que durante uns três ou quatro dias devastou a floresta litoral da Gândara, entre a Figueira da Foz e Mira.

Se o leitor quiser obter informações históricas sobre o grande incêndio de 1993, que agora certamente cairá no esquecimento, poderá consultar este estudo científico:

https://www.uc.pt/fluc/nicif/Publicacoes/Colectaneas_Cindinicas/Download/Colecao_IV/Artigo_VII.pdf