quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os antigos Palheiros da Praia da Tocha!

Pensa-se que a Praia da Tocha (localidade também conhecida por Palheiros da Tocha), terá sido fundada há aproximadamente 250 anos atrás (embora não exista documentação que o fundamente), por pescadores emigrados de localidades costeiras do Litoral Centro-Norte de Portugal, em busca de novos locais para exercer a sua actividade. A eles se terão juntado mais tarde alguns habitantes das localidades mais próximas.

Estes primeiros habitantes estavam sujeitos a vários condicionalismos extremos, que incluíam a sua modesta condição económica, o isolamento e difícil acesso do local (sem estradas, com o acesso a ser feito por caminhos de areia solta), a falta de materiais de construção na Gândara (para além do adobe, do barro e da madeira de pinho) e sua dificuldade de transporte até ao local. Existia ainda a flutuação sazonal do nível do solo arenoso das dunas costeiras, causada pelos ventos fortes, que ora depositavam, ora retiravam areia (fenómeno natural que quase desapareceu na actualidade). Estes condicionalismos conduziram ao aparecimento do "Palheiro da Praia da Tocha", habitação típica desta localidade, assim chamado por originalmente os seus telhados serem cobertos por palha, antes de serem substituídos por telhas de barro. Outros condicionalismos similares moldaram as formas de outras variantes do "Palheiro", construídas em outras localidades do Litoral-Centro Português. Mas o "Palheiro da Praia da Tocha" ganhou distinção em relação aos outros tipos locais de "Palheiros", essencialmente por dois motivos: as suas dimensões mais modestas, e o facto de terem permanecido até mais tarde na Praia da Tocha, muitos anos depois do seu completo desaparecimento em outras localidades costeiras! 

Os "Palheiros" eram pequenas construções feitas de tábuas de madeira de pinho (material abundante na região, barato e mais fácil de transportar (convém alertar que a floresta costeira da Gândara só foi semeada nas duas décadas de 1920-1940, sendo que antes esta zona era formada por dunas arenosas, com poucas árvores e alguma vegetação rasteira)), com não mais do que 1 a 3 divisões internas. Eram erguidos sobre profundas estacas (entre 1 metro a 1,5m acima do nível do solo), evitando-se assim que ficassem "semi-enterrados" ou com a sua base "descalça", dependendo do vento acumular ou retirar areia.

Até meados do século XX, os Palheiros constituíram a quase totalidade dos edifícios do povoado. Contudo, a partir desta altura dá-se uma alteração radical nos condicionalismos anteriormente citados. O nível de vida e o poder económico das populações começam a aumentar, o que as leva a ansiar por melhores condições de conforto e habitabilidade. O isolamento e o difícil acesso são quebrados pela construção de uma estrada alcatroada. Novos materiais de construção, de produção industrial, ganham preponderância, como o cimento e o tijolo.

A pouco e pouco, durante a segunda metade do século XX, os Palheiros começam a desaparecer lentamente e progressivamente da Praia da Tocha, sendo substituídos por habitações modernas. Hoje restam poucos Palheiros. E quase todos são, ou réplicas modernas, ou construções de características "híbridas", de transição entre os velhos Palheiros e as habitações modernas.

Como não possuo fotografias próprias dos antigos Palheiros, coloco aqui algumas fotos que tirei dos painéis de azulejos existentes na Capela da Praia da Tocha, os quais foram baseados em fotos antigas. Estes painéis de azulejos foram pintados pelo Sr. Jorge Guerra, artista especializado neste tipo de trabalhos. Eu tirei estas fotos em Julho de 2007.

Aconselho a leitura do post "Os actuais Palheiros e Casas Tradicionais da Praia da Tocha" (clicar), onde poderá encontrar bastantes fotografias dos Palheiros da actualidade.

The  “Palheiros” of Tocha Beach!

It is thought that the Tocha Beach (aka Palheiros da Tocha), have been founded some 250 years ago, by fishermen who emigrate from some coastal villages of the Central-North Coast of Portugal, in search of new places to pursue their activities. Later, some residents of the nearest villages came too.

Those first inhabitants were subject to various extreme constraints, which included their modest economic status, the isolation and the difficult access to this place (without roads, with the access done by way of loose sand paths), the lack of building materials in Gândara (apart from adobes, clay and pine wood), and its difficulty in transportation to the site. There was also a seasonal fluctuation in the level of the sandy soil of the coastal dunes, caused by strong winds, which sometimes accumulated more sand, other times took sand away (natural phenomenon that has almost disappeared nowadays). These constraints led to the emergence of the "Palheiro of Tocha Beach", wooden hut typical of this coastal village, originally so called because their roofs were covered with straw, before being later replaced by clay tiles. Other similar constraints were in the origin of other variants of the "Palheiro", built in other coastal places of the Portuguese Center Region. But the "Palheiro" won distinction from "Palheiros" of other places, for two main reasons: its modest dimensions (these were smaller), and the fact that they remained until very late in the Tocha Beach, many years after its complete disappearance in other coastal villages!

The "Palheiros" were small buildings, made ​​of planks of pine wood (there were plenty of pine wood in other places of the region,  who was cheaper and easier to transport (i must say that the forest around Tocha Beach was only planted in the two decades of 1920-1940. Before, this area it was composed by sandy dunes, with few trees and some ground vegetation)), with no more than 1 to 3 internal divisions. They were built, raised on deep piles (from 1 meter to 1.5 meters above ground level), thus avoiding that they would be half buried, or had its base exposed, depending if the wind was putting or removing sand.

Until the mid-twentieth century, the Palheiros were almost all the buildings of the village. However, by this time, the constraints mentioned above changed profoundly. The standard of living and the economic status of the population began to improve, which leads them to yearn for better comfort and livability. The isolation and the difficult access, were broken with the construction of a paved road. New building materials, of industrial production, became standards, such as the cement and bricks.

During the second half of the twentieth century, the Palheiros begin to disappear from Tocha Beach, slowly and progressively, being replaced by modern housing. Today there are few Palheiros. And almost every are, or modern replicas, or "hybrid" constructions,  in transition between the original Palheiros and the modern houses.

As I do not have photographs of the old Palheiros, i put here some photos I took from some tile panels, located in the outside walls of the Chapel of Tocha Beach. These tile panels were based on old photos. They were painted by Mr. Jorge Guerra, who is an artist specialized in this type of works. I took these photos in July of 2007.

Please also read the sequel of this post, "The Palheiros and traditional houses of Tocha Beach" (click), with plenty of photos and more informations.






 Localização da Capela / Location of the Chapel:

2 comentários:

Manel disse...

A povoação poderia até ter existido antes do terramoto de 1755como povoamento piscatório temporário. Após o maeremoto de 1755 foi fundada ou refundada por pescadores vindo no norte, desde Aveiro, Póvoa , e talvez ainda mais a norte. Povoeiras tem uma razão de ser, assim como a doença dos pézinhos.
O falar arcaico dos caniceiros antigos é o indicador que os Palheiros da Tocha sejam anteriores a 1755, pois a Caniceira é anterior a esse tempo e eles eram os principais pioneiros da xávega no mar da Tocha. Falo sem suporte documental, pois á época este não seria muito usado, pois destas areias não existiam almas valiosas para a salvação.

Bruno E. Santos disse...

Obrigado pela visita, "Sr. Manel".

A data aproximada da fundação do povoado é um daqueles mistérios que perdurarão no tempo.

Outro factor que explica a ausência de registos documentais será o facto de o pequeno povoado ter sido sobretudo um local de residência secundária e sazonal para os seus moradores. Desta forma, todos os possíveis registos documentais datados, existentes em arquivos documentais, originários das paróquias da zona (casamentos e baptizados) ou notariais, terão as indicações da residência principal dos indivíduos.

Mas no caso hipotético de alguns agregados familiares aí terem habitado em permanência nesse passado longínquo, penso que será neste tipo de documentos que um dia poderá aparecer uma data que comprove a existência do povoado em datas mais recuadas!

Mas isso será um tipo de investigação para quem tiver muito tempo e paciência. Muito mesmo!