A pega é uma ave bastante comum em Portugal, conhecida por Pega-rabuda ou Pega-rabilonga (Pica pica) (clicar). Em tempos antigos, havia na Gândara o hábito de obter pegas para as conservar em gaiolas como aves domésticas. São aves inteligentes que também conseguem imitar alguns sons humanos ou do ambiente que as rodeia. Entenda-se assim que a pega era uma espécie de "papagaio dos pobres", uma ave de companhia acessível a pessoas de baixa condição económica.
Mas continuemos...
O Ti Manel do Forno faleceu há poucos anos, já em idade avançada, octogenário, mas quase nonagenário. Manuel de nome próprio, ganhou o apelido popular "do Forno" por ter sido proprietário de um forno de cal que laborou durante algumas décadas a Norte da aldeia da Caniceira (na Freguesia da Tocha e Concelho de Cantanhede), onde este homem viveu a sua vida.
Alguns dos edifícios de apoio desse forno de cal ainda existem, próximos da Estrada Nacional 109 (a Norte da Caniceira), embora o velho forno propriamente dito já não exista, pois foi demolido há uns anos. Estando em desuso e sem manutenção há muito tempo, o forno encontrava-se em risco de ruir e, estando num local facilmente acessível, eram muitos os curiosos que tinham o hábito de entrar lá dentro, logo existia uma possível situação trágica à espera de acontecer, enquadrando-se assim a demolição no velho ditado português de que vale mais prevenir do que remediar.
Alguns dos edifícios de apoio desse forno de cal ainda existem, próximos da Estrada Nacional 109 (a Norte da Caniceira), embora o velho forno propriamente dito já não exista, pois foi demolido há uns anos. Estando em desuso e sem manutenção há muito tempo, o forno encontrava-se em risco de ruir e, estando num local facilmente acessível, eram muitos os curiosos que tinham o hábito de entrar lá dentro, logo existia uma possível situação trágica à espera de acontecer, enquadrando-se assim a demolição no velho ditado português de que vale mais prevenir do que remediar.
Pouco há a dizer do Ti Manel do Forno em particular, foi mais um homem simples e modesto, com as suas virtudes e os seus defeitos, mais um dos muitos milhões de seres humanos que passaram por este mundo de forma praticamente anónima (sem terem conseguido garantir a imortalidade do seu nome e do seu legado, uma vez que não se destacaram em vida em áreas como a política, as ciências, as artes ou a economia). Foi mais um dos muitos milhões de seres humanos que apenas deixaram descendência para a posteridade e algumas recordações naqueles que privaram com ele.
E esses terão certamente na memória a brincadeira carinhosa que o Ti Manel do Forno costumava fazer com as pessoas que ia conhecendo, sobretudo a crianças e jovens (mais crédulos, ingénuos e receptivos), mas também a adultos e idosos. Depois de uma curta conversa de circunstância, ganha a confiança e a empatia do interlocutor, o Ti Manel costumava perguntar às pessoas se queriam uma pega. Tão boas eram as referências que fazia à ave, que a resposta do interlocutor à oferta era invariavelmente positiva. E ficava a promessa da entrega da pega num futuro indefinido.
Quando uma dessas pessoas voltava a encontrar de novo o Ti Manel, era comum a conversa da pega vir à baila, sempre num clima de boa disposição:
- Então ó Ti Manel, e a minha pega, quando é que ma dá?
O rol de justificações do Ti Manel era invariavelmente:
- Não me esqueci da tua pega, mas este foi um ano mau para elas, em que elas mal criaram, não consegui descobrir nenhum ninho delas...
Ou:
- Tens de esperar mais uns meses, ter paciência, que ainda não está na altura de elas criarem...
Como o leitor já deve ter percebido, essa pega nunca era entregue, nem consta que alguma tenha sido alguma vez entregue.
Mas fica a boa memória do homem e da sua brincadeira carinhosa, que praticou durante décadas com muitas das pessoas que ia conhecendo. Devem existir umas boas centenas de gandareses, desde jovens a idosos, a quem o Ti Manel do Forno terá um dia prometido oferecer uma pega.
Eu fui um deles e conheço alguns outros. E o leitor, foi uma dessas pessoas? Se foi, poderá utilizar a caixa dos comentários para contar a sua história pessoal da pega prometida que esperou em vão.
Localização da aldeia da Caniceira:
Localização do antigo forno de cal do Ti Manel do Forno:
1 comentário:
Eu privei de muito perto com o Ti Manel do Forno.
Ele tinha uma vinha no Escoural, e tratava-nos por parente. Prometia pegas gaios e pintassilgos. Claro que nunca nos trouxe nenhuma das aves mencionadas, mas nunca faltou ao prometido.
Tinha muitos amigos. Um deles era o meu pai.
Faleceu na década passada.
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