A Arte Xávega tradicional era uma actividade que necessitava de bastante mão-de-obra, em que cada "Companha" de pescadores costumava ter várias dezenas de pessoas a trabalhar.
Contudo, nos finais da década de 60 e princípios da década de 70, a Arte Xávega sofreu uma carência de mão-de-obra. Sendo uma actividade de rendimentos baixos, incertos e sazonais, perdeu muitos pescadores que nesta época optaram pela Emigração ou por procurar trabalho em outras ocupações profissionais mais bem remuneradas e estáveis que foram surgindo no país.
Paralelamente, nesta altura também surgiram no mercado motores de popa (ou motores fora de borda) a preços acessíveis.
Estes dois factores conjugados (a falta de mão-de-obra e o surgimento no mercado de motores fora de borda a preços acessíveis), conduziram a uma primeira revolução na Arte Xávega tradicional. Os novos barcos construidos a partir desta altura, adaptados para serem propulsionados a motor, diminuíram bastante de tamanho (uma vez que já não necessitavam de acomodar dezenas de remadores) e passaram a ir ao mar com tripulações reduzidas de 3 a 6 homens. Muitos barcos ainda conservaram um par de remos, para serem usados em caso de avaria do motor e para impulsionar os barcos durante os primeiros metros de entrada no mar, até a embarcação atingir uma profundidade suficiente para utilizar a hélice sem esta tocar no fundo de areia e pedras.
A Arte Xávega manteve-se assim durante aproximadamente 20-25 anos, até que em meados da década de 90 passa por uma segunda revolução, assente na mecanização. Foram introduzidos tratores especialmente modificados que permitiram libertar os homens e as juntas de bois/vacas (estas últimas desapareceram deste tipo de pesca) de grande parte do esforço físico que ainda faziam. Estes tratores modificados passaram a:
- Puxar as redes, através de cabrestantes/guinchos/molinetes (não sei a terminologia correta) montados na sua parte traseira.
- Empurrar os barcos para o mar, através de um braço articulado instalado à frente. Isto fez com que os barcos já não precisassem de utilizar os remos durante os primeiros metros da entrada no mar.
- Puxar os barcos do mar para a praia.
- Rebocar atrelados com diversas cargas.
Algum barcos foram dotados de rodas de automóvel para facilitar a sua deslocação na praia, quando empurrados ou puxados pelos tratores. Vários barcos deixaram mesmo de ter remos, enquanto outros ainda os conservam para utilizar em caso de avaria do motor ou por tradição.
Contudo, este período também trouxe novas adversidades à Arte Xávega, ao nível da Burocracia e Legislação Estatal, que por vezes não levam em conta as especificidades deste tipo de pesca tradicional. As regras rígidas do Estado, apesar de terem boas intenções como a conservação dos recursos marinhos ou a segurança alimentar, complicam bastante a vida aos pescadores que ainda resistem.
Qual será a próxima revolução da Arte Xávega, se sobreviver por mais algumas décadas? Talvez a inclusão de dispositivos eletrónicos? Talvez nos materiais? Já foram construídos barcos em fibra de vidro e alumínio (resistente à corrosão), substituindo a tradicional madeira e o ferro. Pelo menos um destes barcos já pesca na Praia de Mira há alguns anos!
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